Remoendo a traição
Remoendo a traição
Recomeçar, ela sabia que deveria mas, o caminho lhe parecia
longo, tão íngreme!
Isabel sentia-se desanimada, sem coragem, não conseguia
fazer nenhum esforço para seguir o seu caminho. Ficava parada, quieta naquela
cama pensando no término de uma relação de anos - um sentimento de exaustão
emocional a consumia, só conseguia pensar que havia perdido. E de nada
adiantava tentar falar, chamar-lhe a atenção para a vida que continuava, no sol
que nascia todas as manhãs, nos pássaros que cantavam.
O fato de ver-se sozinha a deixava um tanto zonza, sem
atinar que rumo seguir. A verdade era clara, ela estava sozinha, solteira
novamente. Como poderia iniciar nova
vida, conhecer alguém novo de novo – esse refazer, se tornar íntimo, construir,
definitivamente não seria fácil. Isabel
precisava se preparar para novamente enfrentar a vida.
Quando Isabel pensava na Traição tudo se tornava mais
difícil ainda, a garganta pesava como se tivesse engolido algo de difícil
digestão. Deixava-se abater por uma angustia frustrante. Dor que lhe ia na alma
desatinava doer.
A separação balançou as estruturas de Isabel por ter
apostado nos seus sonhos, na relação entre ela e Paulo Guilherme. A moça fora
pega de surpresa, jamais pensara passar pelo que estava passando. Algumas
pessoas apostavam na volta do casal. Contudo, e como manter uma relação depois
de ter perdido a confiança? Se ela aceitasse aquela vida logo perderia a
confiança em si mesma, no seu valor.
Na verdade, Isabel sentia-se mutilada vendo que construíra
seus sentimentos com bases falsas, e estas, foram desfeitas por serem falsas.
Será que vivera de ilusões o tempo todo? Nem ilusões poderia alimentar, em seu
caso não funcionaria. Fora uma vida inteira e de momento para outro jogada pela
janela.
Dentro da cabeça de Isabel pensamentos davam nós. A traição
deixou sua alma dolorida, dor acumulada ao longo do relacionamento de ambos.
Não, ela não o iria procurar. Se assim acontecesse, como poderia olhar para
dentro de si? Ela amava aquele homem,
mas amava-se também. Depois, a separação partira dele, fora sua vontade.
Isabel precisava de tempo para si, para refletir, pesar,
medir, somar, subtrair tudo o que acontecera em sua vida. Um recolhimento
necessário com a finalidade de entrar em contato com seus sentimentos e
reavaliá-los, reorganizá-los.
Foi uma separação dolorosa chegando ser agressiva,
distorções de fatos e o peso dos acontecimentos ainda estava muito presente. O
fato é que a coisa estava quente. Nada poderia ser feito naquele momento,
porque alguém poderia esbarrar mesmo que levemente no machucado. Não, ela não
correria o risco. Também não sentia vontade de dar explicações, mesmo que
fossem para os amigos – o momento era dela, só dela. Se sentia raiva a raiva
era dela, precisava mastigar, digerir, para então se libertar da agonia. Isabel
sabia que o amor não tinha volta.
Isabel estava descrente com relação ao amor, como confiar,
como ter coragem de apostar em nova relação? Também, estava tão recente!
Pessoas amigas sempre dizendo que um amor cura o outro. Sim,
cura, e se cura é preciso tempo para curar as feridas da alma. Como poderia
naquele momento acreditar que a história não iria se repetir? Não seria melhor
dar tempo ao tempo pensava Isabel.
Enquanto isto, Isabel continuava remoendo os pensamentos
dentro de si. Ela queria entender como Paulo Guilherme, uma pessoa inteligente,
educada, estudada, QI acima do normal,
fora entrar naquela de se permitir ser amante de uma colega de trabalho
– trocar a mãe de seus filhos por uma outra qualquer. Lembrando-se do ocorrido,
fazendo um paralelo entre a inteligência e a infidelidade Isabel sofria por
dentro.
Porém, Paulo Guilherme fizera sua escolha o melhor não seria
assumir as consequências?
Marta Peres
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