Ato final da traição
Ato final da traição
Quanto tempo havia-se passado desde aquele dia negro e
tenebroso?
Isabel perdera a conta dos dias, não sabia se o tempo
passava ou não – também não se interessava por nada. Na verdade, a jovem não
queria saber do tempo, apenas queria pensar, pensar, pensar. Sempre fora pessoa
consciente de seus valores – sabia da importância de se ter em mente que cada
relação é uma e com caminhos próprios. Mas quanto a sua relação...
definitivamente, não estava sendo fácil engolir tamanho pesadelo.
Ela pensava no papel da mulher – a mulher na vida do homem
veio para cumprir o papel de companheira, de alento em dias difíceis, a mulher
seria simples dependente dele? Ora, a mulher tem ideias próprias, poder de
decisão, pode ser autônoma sem perder a doçura e candura de quem está sempre
disposta a cuidar e servir.
Contudo, sentia a sensação de ter engolido um espinheiro que
nunca descia. E não era fácil engolir e digerir tamanho osso que se lhe foi
apresentado – ela estava sofrendo e a ação de aceitar a situação era penosa,
cheia de espinhos. Precisava continuar vivendo, tocar a vida, até mesmo quem
sabe colocar outro amor em sua vida – na verdade, Isabel sentia o medo natural,
será que tudo não iria se repetir?
O abalo sofrido por Isabel fora realmente profundo. A
desconfiança dançava ante seus olhos e a moça não conseguia deixar de
desconfiar de algo novo, da capacidade de ser feliz novamente, de fazer alguém
feliz. Será que existia mesmo alguém legal para si, alguém que seguiria ao seu
lado, sem, no entanto, a trair? Eram estes seus pensamentos naqueles dias que
seguiam.
Mas, Isabel buscava entender o que pode ter levado a essa
situação, Paulo Guilherme a havia traído, era fato concreto. O que o levara a
praticar o ato? Na verdade, valeria a pena saber? Adiantaria de alguma coisa?
Quem sabe não seria melhor deixar a vida seguir e seguir cada um para o seu
lado? Ela não poderia tirar um aprendizado da questão? Não que ela fosse uma
pessoa bondosa ao extremo, que perdoasse o traidor, no entanto, o que ela iria
lucrar procurando um meio de vingança ou algo parecido. Talvez, ser feliz de
outro modo fosse mais importante na vida. Por enquanto, ela precisava ao menos
saber.
Os dois trabalhavam juntos no mesmo local, se encontravam
todos os dias, era fato. Porém, como começou tudo isto? A cabeça da maioria dos homens é suja e nela
é preponderante o sexo. Há homens que não suportam viver sem sexo, variar de
parceiros. Não podem ver um rabo de saias que atacam – depois, um sorriso
dela... uma blusa mais decotada ou botões entreabertos mostrando mesmo que
levemente os seios... Muitos são tarados por seios outros, um leve balançar de
bunda, um par de pernas... Paulo Guilherme não seria diferente dos outros homens.
Entretanto Isabel sabia que nada justificava a traição. Para
começar, imaturidade não contava, Paulo Guilherme era maduro o suficiente. A
relação dos dois não andava desgastada e eles se davam muito bem na cama.
Justificativa alguma torna correta uma traição, no entanto, ainda assim, ela
tem um sentido dentro daquela relação.
Isabel precisava compreender para superar – não que fosse diminuir a
dor, porém, faria com que ela entendesse as razões, disto ela precisava.
O estranho é que mesmo depois da traição Paulo Guilherme não
admitia ter traído tanto que nem sair de casa saiu. Porém, com o passar dos
dias, as brigas por conta do problema foram desgastando os dois e ele foi para
um apartotel – não sem antes insistir para não se separarem. Isabel preferiu a
separação.
Ele jurava amar dizendo ter sido um ato impensado. Isabel
não aceitava, não acreditava e em sua cabeça passava somente que ele queria ter
uma vida dupla.
Como Isabel iria acreditar novamente? Ela pensava, mas não
conseguia chegar a uma conclusão mesmo sabendo que o marido estava sozinho no
apart. Na verdade, a cabeça da moça cheia de sonhos havia dado um nó.
Isabel pensava em culpas. De quem seria? Não teria sido escolha?
Isabel tinha consigo que na maioria das vezes são escolhas. Então, que Paulo
Guilherme seguisse a escolha que fizera.
Isabel agiu como
afoita, por não entender ou não conseguir entender as explicações do marido. O
que rolava pela cabeça da moça era apenas a palavra traição – o não ter sido
bom companheiro o suficiente para suportar.
Se ele interessou-se por um par de pernas, de seios ou bundas, ele
poderia continuar se interessando novamente.
Assim, Isabel ignorou que Paulo Guilherme pudesse estar
sofrendo pelo erro, pela separação, que ele a amava apesar da fraqueza. A
palavra “nunca” dançava ante os seus olhos dizendo que não perdoaria.
Com isto, Isabel
sofria por dentro, amargurava-se pela dor sentindo pena de si mesma.
Isabel não conseguia entender que poderiam superar, refazer
a vida, dar a volta por cima e iniciar nova caminhada no relacionamento de
ambos. Não admitia que juntos poderiam lidar com a situação, encorajarem ante as
dificuldades, reavaliarem, reverem e então seguirem adiante. Ela preferiu
arriscar, perder o companheiro de anos por não conseguir lidar com o conflito,
admitir e arrumar tudo de novo. Seu trauma fora grande.
Isabel não conseguiu mais apostar em outra relação enquanto
Paulo Guilherme, depois de algum tempo foi morar com a colega de trabalho, dita
cuja pivô do drama.
Essa é a história real de uma paulistana, que apesar de tudo vive, come, bebe, empurra
a vida para frente tentando aprender viver – ainda ressentida com a vida,
carregando sua dor como se puxasse vagões, sem muita alegria e sem admitir uma
nova relação para ser feliz. Contudo,
com a esperança de que o sol poderia novamente brilhar.
Marta Peres
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