.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ato final da traição







Ato final da traição 

Quanto tempo havia-se passado desde aquele dia negro e tenebroso? 

Isabel perdera a conta dos dias, não sabia se o tempo passava ou não – também não se interessava por nada. Na verdade, a jovem não queria saber do tempo, apenas queria pensar, pensar, pensar. Sempre fora pessoa consciente de seus valores – sabia da importância de se ter em mente que cada relação é uma e com caminhos próprios. Mas quanto a sua relação... definitivamente, não estava sendo fácil engolir tamanho pesadelo.

Ela pensava no papel da mulher – a mulher na vida do homem veio para cumprir o papel de companheira, de alento em dias difíceis, a mulher seria simples dependente dele? Ora, a mulher tem ideias próprias, poder de decisão, pode ser autônoma sem perder a doçura e candura de quem está sempre disposta a cuidar e servir.

Contudo, sentia a sensação de ter engolido um espinheiro que nunca descia. E não era fácil engolir e digerir tamanho osso que se lhe foi apresentado – ela estava sofrendo e a ação de aceitar a situação era penosa, cheia de espinhos. Precisava continuar vivendo, tocar a vida, até mesmo quem sabe colocar outro amor em sua vida – na verdade, Isabel sentia o medo natural, será que tudo não iria se repetir?  

O abalo sofrido por Isabel fora realmente profundo. A desconfiança dançava ante seus olhos e a moça não conseguia deixar de desconfiar de algo novo, da capacidade de ser feliz novamente, de fazer alguém feliz. Será que existia mesmo alguém legal para si, alguém que seguiria ao seu lado, sem, no entanto, a trair? Eram estes seus pensamentos naqueles dias que seguiam.

Mas, Isabel buscava entender o que pode ter levado a essa situação, Paulo Guilherme a havia traído, era fato concreto. O que o levara a praticar o ato? Na verdade, valeria a pena saber? Adiantaria de alguma coisa? Quem sabe não seria melhor deixar a vida seguir e seguir cada um para o seu lado? Ela não poderia tirar um aprendizado da questão? Não que ela fosse uma pessoa bondosa ao extremo, que perdoasse o traidor, no entanto, o que ela iria lucrar procurando um meio de vingança ou algo parecido. Talvez, ser feliz de outro modo fosse mais importante na vida. Por enquanto, ela precisava ao menos saber. 

Os dois trabalhavam juntos no mesmo local, se encontravam todos os dias, era fato. Porém, como começou tudo isto?  A cabeça da maioria dos homens é suja e nela é preponderante o sexo. Há homens que não suportam viver sem sexo, variar de parceiros. Não podem ver um rabo de saias que atacam – depois, um sorriso dela... uma blusa mais decotada ou botões entreabertos mostrando mesmo que levemente os seios... Muitos são tarados por seios outros, um leve balançar de bunda, um par de pernas... Paulo Guilherme não seria diferente  dos outros homens.

Entretanto Isabel sabia que nada justificava a traição. Para começar, imaturidade não contava, Paulo Guilherme era maduro o suficiente. A relação dos dois não andava desgastada e eles se davam muito bem na cama. Justificativa alguma torna correta uma traição, no entanto, ainda assim, ela tem um sentido dentro daquela relação.  Isabel precisava compreender para superar – não que fosse diminuir a dor, porém, faria com que ela entendesse as razões, disto ela precisava.  

O estranho é que mesmo depois da traição Paulo Guilherme não admitia ter traído tanto que nem sair de casa saiu. Porém, com o passar dos dias, as brigas por conta do problema foram desgastando os dois e ele foi para um apartotel – não sem antes insistir para não se separarem. Isabel preferiu a separação.

Ele jurava amar dizendo ter sido um ato impensado. Isabel não aceitava, não acreditava e em sua cabeça passava somente que ele queria ter uma vida dupla.

Como Isabel iria acreditar novamente? Ela pensava, mas não conseguia chegar a uma conclusão mesmo sabendo que o marido estava sozinho no apart. Na verdade, a cabeça da moça cheia de sonhos havia dado um nó.

Isabel pensava em culpas. De quem seria? Não teria sido escolha? Isabel tinha consigo que na maioria das vezes são escolhas. Então, que Paulo Guilherme seguisse a escolha que fizera.

 Isabel agiu como afoita, por não entender ou não conseguir entender as explicações do marido. O que rolava pela cabeça da moça era apenas a palavra traição – o não ter sido bom companheiro o suficiente para suportar.  Se ele interessou-se por um par de pernas, de seios ou bundas, ele poderia continuar se interessando novamente.   

Assim, Isabel ignorou que Paulo Guilherme pudesse estar sofrendo pelo erro, pela separação, que ele a amava apesar da fraqueza. A palavra “nunca” dançava ante os seus olhos dizendo que não perdoaria.

Com isto,  Isabel sofria por dentro, amargurava-se pela dor sentindo pena de si mesma.

Isabel não conseguia entender que poderiam superar, refazer a vida, dar a volta por cima e iniciar nova caminhada no relacionamento de ambos. Não admitia que juntos poderiam lidar com a situação, encorajarem ante as dificuldades, reavaliarem, reverem e então seguirem adiante. Ela preferiu arriscar, perder o companheiro de anos por não conseguir lidar com o conflito, admitir e arrumar tudo de novo. Seu trauma fora grande.

Isabel não conseguiu mais apostar em outra relação enquanto Paulo Guilherme, depois de algum tempo foi morar com a colega de trabalho, dita cuja pivô do drama. 

Essa é a história real de uma paulistana,  que apesar de tudo vive, come, bebe, empurra a vida para frente tentando aprender viver – ainda ressentida com a vida, carregando sua dor como se puxasse vagões, sem muita alegria e sem admitir uma nova relação para ser feliz.  Contudo, com a esperança de que o sol poderia novamente brilhar.
  

Marta Peres

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home