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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Poesia de Líria Porto


A Poesia de Líria Porto







 leoas

formemos as fileiras lado a lado
se quiserem massacrar a nossa prole
temos unhas temos dentes e coragem

*líria porto








 poente

não é noite ainda
nem dia
nesta hora aflita
ninguém interdita
o ocaso

fica mais um pouco
espera a estrela
ela não demora
hoje é domingo
ou segunda-feira?

não importa o tempo
não importa a mágoa
esse limiar
é e sempre foi
a gota d'água

a vida se esvai
esgota-nos apouca-se
salve-se o amor
alvo dos chacais
cria indefesa

*líria porto




 cicuta

é que o suicida tem ideia fixa
vê o edifício salta no vazio
pensa numa lâmina lembra-se dos pulsos
e nunca se esquece do pontiagudo
daquele objeto perfurocortante
da arma de fogo do cianureto
do medicamento de tarja
preta

é que o poeta tem ideia fixa

*líria porto





 beco

o
sono
não
acabou
e
sonhos
são
pesadelos
:
a
saída
é
achar
a
entrada
ou
dormir
de
novo

*líria porto




 (i)material

para escrever eu preciso
um penhasco um precipício
umas asas o escafandro
um pé de vento
e um grilo

lápis e papel
nem tanto

* líria porto





 sonhar

sono profundo – o corpo quieto
e o espírito aí pelo mundo

*líria porto





 cais

na cama embarco
e desembarco
do sonho

*líria porto








 o ofício do carteiro - cada vez mais pesado - as cartas foram substituídas por e-mails e agora o que carrega são pacotes, compras na internet






vista

eu tenho um olho ruim
em compensação o outro
é bom

*líria porto







poeminha

as meninas dos olhos
pequeninas buliçosas
saltam do ramo de rosas
para o azul da manhã

como não temem nada
ficam dependuradas
nos raios de sol

*líria porto









c'est la vie

empréstimo compulsório
sem data de vencimento
o prazo pode ser grande
ou pequeno

(assunto proibido
para nos acontecer
basta-nos estar
v i v o s)

fingir não resolve
tirana é quem cobra
a apólice

(quem de nós
será o próximo?)

*líria porto





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