O quintal na sala de visitas
O quintal na sala de visitas
Há
dois anos dei à minha mãe um presente de Natal que ela não esperava.
Posso garantir que ela gostou bastante. Durante o ano, fui tirando fotos
de flores e frutos do seu quintal, na rua Cesário Alvim, em Patrocínio.
Eram mangas, uvas, limão, pitanga, acerola, carambola, tomate cereja, rosas, begônias e outras de que não me recordo.
O quintal da minha mãe tem muita história e muita vida. Os netos ou crianças visitantes adoram percorrer os caminhos entre os canteiros, calçados de tijolos antigos que lembram a olaria da fazenda Esmeril. É visitado por pássaros, insetos e até gambás, mas estes não entraram no mosaico de fotos que preparei e emoldurei.
Recentemente, ela inventou de pintar os bancos de madeira e os entregou aos netos que, na base da arte com arte, deixaram suas marquinhas.
Voltando ao presente de Natal, então, este foi um quadro bem colorido e alegre, lúdico e pessoal. Minha mãe olhou com aqueles olhos de quem está feliz, mas prefere que os outros ao redor tenham mais alegria que ela. Gostou. Foi a forma de o quintal ir para a sala de visitas.
Muitas frutas amadureceram e foram colhidas desde então. No ano passado, a falta de chuva prejudicou a qualidade das mangas e no Natal a ceia foi servida sem as uvas costumeiras, que estavam verdes.
Todo mundo, creio, tem um quintal na alma. O de Sebastião Salgado esteve em Aimoré, agora está no mundo. Em breve, ele lança biografia “Da minha terra à Terra”. Não sei se em algum momento usa o termo quintal para lembrar as referências mais pessoais; no entanto, aposto que o seu coração registra esse pedacinho de terra que a gente reserva para se sentar e ser a gente mesmo. Ainda que não tenha terra. Ainda que não esteja fora da casa. Ainda assim, há um quintal. Todo mundo tem o seu quintal.
“Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa com janelas de aurora e árvores no quintal/Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores/e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores”. Se escrevesse tão bem quanto Manoel Bandeira, não precisaria emendar dia e noite em busca de uma crônica semanal, mas ainda assim teria coletado imagens das plantas, flores e frutos do quintal da minha mãe para a composição de um quadro.
Quando vou a Patrocínio, a cada dois ou três meses, tenho a certeza de que o meu quintal interior estará sempre ligado ao dela. Esteve na infância, na adolescência, na juventude, na maturidade, estará na minha velhice.
Pois, como diz outro Manuel, este com “u”, o Barros, o quintal onde a gente brincou é sempre maior do que a cidade. Mas a gente só descobre isso depois de grande, muito bem atesta o poeta.
Eram mangas, uvas, limão, pitanga, acerola, carambola, tomate cereja, rosas, begônias e outras de que não me recordo.
O quintal da minha mãe tem muita história e muita vida. Os netos ou crianças visitantes adoram percorrer os caminhos entre os canteiros, calçados de tijolos antigos que lembram a olaria da fazenda Esmeril. É visitado por pássaros, insetos e até gambás, mas estes não entraram no mosaico de fotos que preparei e emoldurei.
Recentemente, ela inventou de pintar os bancos de madeira e os entregou aos netos que, na base da arte com arte, deixaram suas marquinhas.
Voltando ao presente de Natal, então, este foi um quadro bem colorido e alegre, lúdico e pessoal. Minha mãe olhou com aqueles olhos de quem está feliz, mas prefere que os outros ao redor tenham mais alegria que ela. Gostou. Foi a forma de o quintal ir para a sala de visitas.
Muitas frutas amadureceram e foram colhidas desde então. No ano passado, a falta de chuva prejudicou a qualidade das mangas e no Natal a ceia foi servida sem as uvas costumeiras, que estavam verdes.
Todo mundo, creio, tem um quintal na alma. O de Sebastião Salgado esteve em Aimoré, agora está no mundo. Em breve, ele lança biografia “Da minha terra à Terra”. Não sei se em algum momento usa o termo quintal para lembrar as referências mais pessoais; no entanto, aposto que o seu coração registra esse pedacinho de terra que a gente reserva para se sentar e ser a gente mesmo. Ainda que não tenha terra. Ainda que não esteja fora da casa. Ainda assim, há um quintal. Todo mundo tem o seu quintal.
“Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa com janelas de aurora e árvores no quintal/Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores/e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores”. Se escrevesse tão bem quanto Manoel Bandeira, não precisaria emendar dia e noite em busca de uma crônica semanal, mas ainda assim teria coletado imagens das plantas, flores e frutos do quintal da minha mãe para a composição de um quadro.
Quando vou a Patrocínio, a cada dois ou três meses, tenho a certeza de que o meu quintal interior estará sempre ligado ao dela. Esteve na infância, na adolescência, na juventude, na maturidade, estará na minha velhice.
Pois, como diz outro Manuel, este com “u”, o Barros, o quintal onde a gente brincou é sempre maior do que a cidade. Mas a gente só descobre isso depois de grande, muito bem atesta o poeta.
Leida Reis
Leida Reis é patrocinense, jornalista, editora-executiva do Hoje em Dia, onde também escreve uma crônica
semanal (às segundas-feiras), no Caderno de Cultura. É autora dos
romances policiais 'A invenção do crime' e 'Quando os bandidos ouvem
Villa-Lobos'.
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