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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O Corno




O Corno



- Volta mais não! Enquanto tu estava no trabalho tua mulher fugiu com outro, foi-se embora e pelo jeito sem intenção de voltar.



Aquela frase derretia os miolos do Zé Anselmo, corroía queimando-lhe o peito. Não sabia se chorava, se surpreendia ainda mais. O ar parecia lhe faltar e ele não sabia o que falar. Como poderia ele lidar com aquela situação? Corno? Zé Anselmo pasmo se fazia essa pergunta seguidamente, olhar estarrecido, coração palpitando. Sentia-se aborrecido pelo ocorrido, passeava com a mão na testa sem poder entender. Fora pego numa saia justa que abriu ferida no coração. E que ferida!



O jeito era entrar em casa, tomar um banho, comer alguma coisa e chorar pitangas. A ferida estava aberta, coração machucado com a notícia dada pelo vizinho no momento de sua chegada. O pobre estava atônito olhando de um lado para o outro sem saber se ia ou ficava.



Logo ao chegar em casa aquela notícia!



Melhor seria não ter encontrado o vizinho. Era dor demais para uma tarde cansativa, depois de um dia exaustivo de trabalho. Zé Anselmo sentia-se cansado pelos aborrecimentos ocorridos e mais aquele problemão em sua casa! Putz! Não seria muito para um homem só?



Zé Anselmo entrou em casa, andou pelos cômodos um a um, casa vazias, silêncio total, nada se ouvia e não se ouvia nada a não ser as batidas do próprio coração e aquela palavra que lhe teimava queimar os miolos: “ Corno”! Tomou banho, desalentado comeu alguma coisa sentado na mesa da cozinha, afinal, era filho de Deus e saco vazio não para em pé. Ele pensava melhor de estômago cheio.



Comia pão dormido e chorava, chorava e comia. Zé Anselmo deu vazão a sua dor, chorou feito bezerro desmamado. Pensava ele que o jeito seria deixar o tempo sarar aquela dor, estancar o sangue da ferida aberta com a notícia do vizinho. Era muita dor para sarar!



Zé Anselmo, sujeito simples, exímio trabalhador, não tinha conseguido se enricar como prometera a mulher Juliana. E ele sabia que ela era cheia das coisas, das vontades, queria casar-se com marido possuidor de bens, cheio das riquezas. Ele prometera a ela que iria enricar! Foi isto que a levou embora de casa, a falta de grana fez Juliana alçar vôo feito pássaro no céu. Ele tinha que ter trabalhado mais para segurar a mulher – o pobre cobrava-se pensando em sua amada enquanto passava a mão pela testa. Mas ele se esforçara tanto! Disto tinha certeza.



Tanto esforço, tanta luta, para nada.



A Juliana não poderia ter feito aquilo. Deveria ter me esperado pensava revoltado o Zé Anselmo. Amava aquela danada de mulher, um amor tão puro, tão bonito! Perdeu por conta do dinheiro, disto tinha certeza.



Mas ele tinha sido um herói. Casou-se com uma mão na frente e a outra atrás, comprou a casa, os móveis e utensílios, deu a ela uma vida de rainha mesmo sendo vida simples - não, ele nunca deixou faltar o pão na mesa e o amor na cama. Afinal, a vida financeira não era tão precária assim, nunca viveram em penúria. O que deu na cabeça da Juliana?



Ele era um homem pacato, temente a Deus, apaixonado pela mulher – só queria mesmo ser feliz. O pobre, lambuzado em lágrimas chorava choro sentido e amargurado passando a mão pela testa. Teria ganhado muitos galhos? Aquela frase ele não esquecia: - Volta mais não, ela foi-se embora com outro.



Na cabeça de Zé Anselmo sempre a mesma dúvida dançando ante seus olhos. Esse foi o primeiro ou a galhada já está caindo de madura?



Marta Peres

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