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domingo, 1 de março de 2009

Poeta, Oswaldo Antônio Begiato!




SORRISO
Oswaldo Antônio Begiato

Para Vania Gondim

Enquanto entristecido
Por tantos desacertos,
Recebi, hoje,
Pelas mãos precisas
Do destino,
O livro de poesias
Que me mandaste.
Ele me chegou
Com teu breve
E incisivo perfume,
Com tua breve
E tímida dedicatória.

Como sempre,
Tua letra não estava bonita.

Mas quando as palavras
São perfumadas e bonitas
A letra não precisa ser



A ROSA DE NOSSO ETERNO AMOR
Oswaldo Antônio Begiato

Naquele domingo à tarde,
em que todas as criaturas
se encantavam em calcular
a Unidade Astronômica
você veio com a idéia
de construirmos uma flor.

Você faria o projeto
da semente, da brotação...
A mim caberia fazer
a fórmula do perfume,
e o voto de eternidade.

E nós chama-la-íamos de
A Rosa de Nosso Eterno Amor.

Mas veio a segunda-feira
e com ela os homens frios,
com seus tratores pesados,
com suas mantas de asfalto,
nos enfeitaram com flores
construídas de plástico
e nos puseram no andor,
no andor cheio de passos,
cheio de passos alheios.


...desce a noite
Oswaldo Antônio Begiato

...desce a noite,
mas eu não gosto de
quando a noite desce,
me encho de temores,
me encho de covardias,
me encho de abandonos.


...desce a noite,
mas eu não gosto de
quando a noite desce,
me encho de escadas,
me encho de labirintos,
me encho de tropeços.


...desce a noite,
mas eu não gosto de
quando a noite desce,
me encho de perguntas,
me encho de vazios,
me encho de abismos.
.....................................................................................

...desce a noite,
mas eu gosto de
quando a noite desce,
me encho de estrelas,
me encho de luas,
me encho de anjos.

...desce a noite,
mas eu gosto de
quando a noite desce,
me encho de boemia,
me encho de vícios.
me encho de mim mesmo.

...desce a noite,
mas eu gosto de
quando a noite desce,
me encho de respostas,
me encho de encantamentos,
me encho todinho de ti.



BARRO E SOPRO
Oswaldo Antônio Begiato

As pessoas
intensas
imensas
e densas
são feitas
de barro,
de sopro...

De barro
para que as
sementes
germinem.

De sopro
para que as
sementes
se espalhem.

Tudo mais
é pedra,
é vácuo.

TRANSPARÊNCIA
Oswaldo Antônio Begiato

Ficar transparente é uma delícia.
É como se fossemos rima toante de Cecília,
Nas aventuras da Inconfidência.

Ninguém vê a gente
E a gente pode ler Manuel,
O Bandeira, sem cerimônias.
Se quiser pode-se lê-lo nu,
Na estrela da vida inteira.

É bom beliscar as pessoas
E vê-las desesperadas
Querendo saber quem é que foi,
E ficar imaginando o que é que Cora,
A Coralina, diria disso tudo;
Ela, Aninha, suas pedras e seus doces.

Pode-se ainda roubar o pão de queijo
Do prato do patrão,
Enquanto se lê Fernando,
O Pessoa, no silêncio da noite que se apaga
Para que reinem lua, estrelas e poesias,
Enquanto se finge ser poeta.

Pode-se mudar os quadros de lugar,
Nas paredes e nas pessoas
E se sentir duendes.
Mas Lobato, o Monteiro que andou
Inventando estórias, diria que foi o saci.
As pessoas visíveis, não sabem
Nem de duendes, nem de sacis.

Mas não há fórmula pra se ficar transparente.
Fica-se assim, transparente, muitas vezes,
Durante a vida,
De uma forma espontânea.
Sem querer ficar.

Mas ser transparente, pode não ser uma coisa boa.
Conheço meninos que ninguém os vê.
Deixam-nos com fome,
Sem tomar banho,
Com piolho no cabelo,
Com a pele arrepiada de frio,
Com as cabeças sob bombas
De uma guerra imbecil,
Sem nenhum livro
Pra que possam aprender
As várias maneiras de tirar vantagens
De ser transparente.
As várias maneiras
De ser poesia.

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