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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Poeta Afonso Estebanez e as Rosas de Delos!




PRIMEIRA ROSA DE DELOS

Eu conto as noites e reconto os dias
faço de tudo por chegar com pressa
pelos segredos que a mim contarias
no desempenho de gentil promessa.

E aqueço a alma com as noites frias
padeço dores que o doer não cessa,
enfuno o amor e agito as calmarias
das cinzas frias da paixão confessa.

Encanto flores num chorar de rosas
e pelos olhos das manhãs chuvosas
entro no arco-íris do regato em flor.

E tudo em mim reflete o desespero
por escutar da margem do canteiro
a rosa me chamar de “meu amor”!

Afonso Estebanez

SEGUNDA ROSA DE DELOS

Deixem minha alma florescer na lua
meu remoto canteiro de esperanças
ou me deixem viver num fim de rua
entre rosas baldias sem lembranças.

Saudade de horizontes me extenúa.
Procurem-me nos olhos de crianças
onde o instinto dos deuses retribua
o beijo dos extremos das distâncias.

A calma dos jardins não faz sentido
a flor calada assim não se consente
e rosa num deserto é flor proscrita.

Consinta o coração sonhar perdido
e de perder-se meu amor aumente
o tanto quanto seja a alma infinita.

Afonso Estebanez



TERCEIRA ROSA DE DELOS

Por causa de uma rosa me debruço
no muro do crepúsculo e entardeço
como a aurora afogada num soluço
da saudade sem pena onde padeço.

Minha rosa é o começo do percurso
ilhado na memória do que esqueço:
partícula de amor onde me embuço
como o pólen da luz onde anoiteço.

Ò, flor mediterrânea! minha calma!
escrava da esperança que suponho
livre ou cativa me serena e acalma

e não é pena se ao amor imponho.
É cativeiro que me prende a alma,
mas é destino que liberta o sonho.

Afonso Estebanez

QUARTA ROSA DE DELOS

Procuro-te nos mares mais profundos
que guardo nas memórias navegadas
e ainda sinto teus plânctons oriundos
dos semens primitivos das enseadas.

Algum perfume é de jardins fecundos
e espinhos são das rosas fecundadas
pelo tempo infinito de outros mundos
onde o amor reviveu vidas passadas.

Que a eternidade é breve para a vida
de uma paixão sem termo pertencida
às sementes de amor do meu jardim.

E mesmo que jamais tu me percebas
entre os florais de rosas das veredas
o nosso amor vai se lembrar de mim!

Afonso Estebanez


QUINTA ROSA DE DELOS


Hoje em dia ninguém diz mais: eu te amo!
porque convém que apaguem da memória
as lembranças do amor que algum engano
transformou em rascunho alguma história.

Então por quem dizer que ainda me ufano
de morrer-me de amor mesmo sem glória
se o que era sacro vem-me então profano
por quem a renascença é mais simplória?

Sempre cuidei transpor versões proibidas
contra os padrões formais das permitidas
que eu das paixões não descuidei jamais.

Mas os padrões de amor foram vencidos.
Transponho então as flores dos sentidos
e ‘te amo’ entre as roseiras dos quintais!


Afonso Estebanez



SEXTA ROSA DE DELOS


De tanto perder lembranças
relembrar deixou-me assim:
deslembrado de esperanças
que se esqueceram de mim.

Perdi os passos das danças
entre andanças do sem-fim
como os olhos das crianças
nos olhos de um querubim.

Um dia eu quis te esquecer
ô, rosa! – meu bem-querer
entre os espinhos da sorte.

Mas fui canto e passarinho
no aconchego de teu ninho
onde me esqueci da morte.


Afonso Estebanez

SÉTIMA ROSA DE DELOS

O meu amor maior foi da intangível
razão de amar que por amor já tive
e me veio em regresso imprevisível
dos sonhos idos onde nunca estive.

O amor maior é fruto do impossível
que a despeito da morte sobrevive.
Procuro então num elo inconcebível
o espírito da rosa que em mim vive.

Se a rosa existe, tanto amor existe
e mesmo que esperar pareça triste
de triste não pereça quem me quer.

É esse dom que meu amor procura
nos milagres sem causa da ternura
dos instintos de rosas da mulher...


Afonso Estebanez



OITAVA ROSA DE DELOS

Seja-me dada uma canção amena
a flauta do cantar d’água corrente
que destila da mágoa toda a pena
que meu amor ingênito não sente.

Seja-me ouvida a cítara de alfena
arco recurvo de tua alma ausente
onde me dói essa paixão extrema
por uma rosa extrema do oriente.

Pelo amor do princípio que me fez
meus dias de rever-te sejam teus
e minhas tantas horas desditosas.

Seja-me dado ao menos uma vez
repousar no teu corpo como deus
em mortalha de pétalas de rosas.


Afonso Estebanez
(Out.13.2008)

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