Poesia é Viver!
Guardei-te num verso.
.
Guardei-te num verso de saudade.
Era pra ser por pouco tempo...
Talvez um quarto de lua,
talvez uma noite de inverno.
Guardei-te com tantas minúcias
embrulhado em beijos de amor
com o cheiro de toda volúpia
que exalava de ti...
E o verso agora se estende,
não sei se poema ou fragmento
duma’lma pálida
feito entardecer sem sol poente...
E o verso turva meus olhos.
Era pra ser por pouco tempo...
Mas as lágrimas não foram embora.
(Sirlei L. Passolongo)
FOTO ÚLTIMA
Oswaldo Antônio Begiato
Obrigado por guardar
em sua carteira
essa minha foto antiga.
Nela eu ainda tinha
cabelos longos
e barba
e linhas retas
e pele lisa
e infinidades
e simetria
e esperanças
e horizontes
e sonhos...
Tive que cortá-los,
ano passado,
por conta de um tumor
extraído de minha boca
(ela que já era muda
emudeceu-se ainda mais).
Foi a última foto minha
com o rosto ainda direito.
Agora ando torto,
sem medidas exatas,
sem nível,
sem esquadro,
sem ângulos retos,
sem arquitetura,
sem plástica,
sem prumo,
sem rumo...
Quanto à cor dos olhos,
pelos quais não lhe pude
proibir o encanto,
era espanto,
ou perplexidade,
ou intolerância,
ou irrequietação,
ou pavor,
ou tristeza,
ou despedida...
Sei lá.
Sei que não são mais assim
os meus olhos.
Os meus olhos
não são mais assim.
RISO FINGIDO
Lápis e papel
brilham como um anel
na superfície da mesa,
nenhuma surpresa!
- Sinto muito, sugere o riso fingido,
exala um hálito pagão, pervertido...
Do outro lado do pinho,
a carne recebe o espinho
e lágrimas de tinta preta
misturam-se com a caneta,
em sílabas amontoadas
que não querem dizer nada
soam ocas no aposento...
Como é cruel este momento
em que a neblina chega, turva,
e não se vê mais a curva,
só palavras que dão medo:
demissão, desemprego.
Basilina Pereira
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