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domingo, 19 de junho de 2016

Dureza da vida







Dureza da vida

A vida está muito dura pensava Vicentin da dona Luzia. Andava de um lado para o outro na velha casa assoalhada mais parecendo estar sem lugar. Vicentin batia as botas sujas de barro nas tábuas, pois ficava certidão por toda sala.  

Vicentin da dona Luzia não conseguia parar de pensar, ele falar com seus botões. Pensava, pensava, pensava tanto que sua cabeça dava voltas, sentia leve aquecimento, imaginava que dela já saia a fumaça. Faltava pouco para pegar fogo de tanto que pensava.  

Vicentin falava de si para si.

Não chegamos passar fome nem frio. Mas que as coisas estão pela hora da morte e se ficarem assim vamos mesmo é nos amargurar.

Arrepio passava pelo seu corpo quando se lembrava do feijão no supermercado e das blusas de lã daquela loja de departamento lá na cidade. O preço do cobertor então! E olha que é pouco mais grosso que um sapeca negrinho. O preço do quilo de feijão está pela hora da morte. E quem não consegue pagar? E quem não tem como comprar roupas para o inverno que está chegando?

Cismava Vicentin da dona Luzia.

Pito pronto para pitar depositado atrás da orelha, não se cansava de ir e vir. Vicentin passa a mão na cabeça, arrumava as calças na cintura. Pegava o pito mas resolve deixa-lo guardado para mais tarde. Na verdade ele estava sem vontade de pitar. Precisava encontrar uma solução para aquele imbróglio.

É que Vicentin  havia ido até a cidade no dia anterior. 

O pobre do agricultor levara o dinheiro da venda de uma partida de porcos e alguns frangos. Ele iria comprar roupas de frio e feijão para a despesa de cozinha. Porém, o preço do feijão estava tão alto, mas tão alto que não alcançou as posses do Vicentin – levou feijão para alguns poucos dias. E as roupas de inverno? E os cobertores? Será que não iriam mais comer feijão nem possuir agasalhos?

Vicentin viu a cidade entristecida, anuviada, as pessoas entristecidas e sem esperança. Será que não estão comendo feijão? Feijão é que dá alegria às pessoas. Feijão bota cor na face das pessoas. Ficar sem comer feijão nem pensar. Feijão leva alegria para todos que se alimentam dele.

E a cidade então! Como a cidade estava triste, sem cor, sem alegria, sem musicalidade, sem ritmo e tudo estava disforme. A cidade estava largada, cheia de mato, suja. Era uma cidade tão bonita! Por onde andavam os que deveriam cuidar? Engraçado, Vicentin sabia que existia prefeito,  pois ele mesmo votara nele na eleição passada.   Mas... Onde estava o dirigente da cidade? Será que o prefeito foi caçado também?

Vicentin deu de cara com Paulinho da Magnólia.

Paulinho foi o vereador mais votado para a câmara na eleição passada que até  chegou ser presidente. Mas dizem que gastou, gastou e somente brigou, embrulhou, não fez nada  e o povo cansou. Agora queria o voto de novo? Eita que votar nele, ninguém vai mais não. O povo é bobo, dorme,  mas tem horas que acorda pensava Vicentin.

Se a vida tá uma dureza se tem lama por todo lugar onde deveria haver somente beleza, se passa ano e  ano passa e tudo fica na mesma, é hora de verificar onde reina o mal, bater nele com o avental fazer um vendaval.  Tirar da frente para dar lugar ao bom, ao mais comprometido e que quer fazer alguma coisa pela população sem essa enganação.

E o preço do feijão? E o preço do agasalho?

Trocando alhos por bugalhos se o povo aprender votar na certa tudo vai melhorar!



Marta Peres

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