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segunda-feira, 13 de abril de 2009

História de Ana


Conto

História de Ana

Ana sentia-se deprimida com aquela vidinha pacata que a transformara em uma mulher conformada com seu destino. Por vezes, uma amrgura lhe cobria a alma, chorava às escondidas, conversava consigo mesma querendo entender seu drama. Não era esta a vida que sonhara! Os ciúmes de seu marido não a deixando trabalhar como professora no Grupo Escolar foi a primeira decepção depois de casada. Ana só tinha o direito de sair junto com Geraldo, se saía de casa era as escondidas. Até as compras da casa o marido fazia. Ana não ia ao armazém pois o vendeiro poderia olhar para ela.
Precisando algo do armarinho, ele passava, comprava e levava para a mulher. Se havia necessidade de sua presença, quando ele tivesse tempo a levava. Nem os filhos ela podia levar ao colégio e nas reuniões de pais e mestres ele comparecia ou iam juntos. Assim foi a vida de Ana, sem poder sair porta afora sem o acompanhamento do marido. A vida rotineira era o levantar-se pela manhã fazer o café, colocar a mesa, arrumar a casa, preparar o almoço, costurar, bordar, tricotar, depois vinha o jantar e sentar-se no sofá para ouvir as reclamções do marido. Ana vivia de prendas domésticas sem poder opinar em coisa alguma. Sua voz não era ouvida em casa para dar opiniões e até os filhos tinham voz ativa. Ela mais parecia uma boba.
Ana já não suportava mais aquela vida, vivia servindo e quando se dava conta já estava exausta e era hora de dormir.
Por 35 anos viveram assim. Um dia recebe a visita de um colega do trabalho do marido. Ana se assustou pois era hora de trabalho e Geraldo estava no escritório.
Para sua surpresa o colega de seu marido vinha para levá-la ao hospital. Geraldo havia sofrido um enfarto. O homem dissera que fora fulminante e ela deveria ir tomar as providências. Ana calou arregalando os olhos, se fora fulminante a palavra que ouvira da boca do homem do escritório ela estava viúva.
Sem nada entender Ana trocou de roupa e foi acompanhando o mensageiro. No hospital não sabia que providência tomar. Foi então que uma tia chegou. Enérgica dona Corina foi resolvendo tudo. Ana abismada só olhava a tia. Ela não saberia agir daquela forma. Foi ai que tudo desmoronou. Ana se viu sozinha e sentiu medo do futuro. Chorou copiosamente! A tia tentou acalmar a sobrinha dizendo que fora vontade dos céus, todos tinham sua hora. Ana viu o monstro que se aproximada de sua vida. Quem iria até a padaria? E as compras da venda? Ela não podia, não sabia!
Ana deixou-se abater por não saber conduzir sua vida. Tudo o marido fazia, ela havia se calado, aceitado aquela vida e agora?
Com o passar do tempo Ana foi aprendendo, cheia de medos saiu para ir ao salão de beleza, ela precisava cortar os cabelos. Mas ir sozinha!
Demorou algum tempo, hoje Ana conseguiu um emprego pela prefeitura no Grupo Escolar, realizou seu sonho de juventude.
Não quis casar-se novamente, ainda teme encontrar um marido como o Geraldo, porém hoje Ana sai para onde quer e com quem quer. Sua vida ela decide!

Este é um fato ocorrido em uma cidade do interior das Minas Gerais, na década de 40.

Marta Peres

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