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domingo, 28 de setembro de 2008

Poetisa Carmen Bentes!


Minha Amiga Carmen Bentes!

Minha Torre

Forte como uma torre,
surgiu em minha vida,
vive longe,
vive perto do mar!

Amiga pra toda vida,
toda carinho e guarida,
chega iluminado o ar
pois vive pertinho do mar!

Sua alegria e finura,
mescla de encanto e ventura
chega na hora do pranto
deixando seu doce encanto!

Vive em intensa corrida,
a torre sempre a girar,
distante se vê escondida
no trabalho e no mar!

Marta Peres

Carmen Bentes, em cada verso recolhe e estampa o pensar e o sentir, palmilhando seus textos no mais refinado bom gosto e assim caminha fazendo sua poesia.
Carmen Bentes em sua imaginação dá feição e vida aos seus personagens, segue os movimentos, acompanha-lhes a caminhada, numa visão de sonhos em anelos constantes de amor...
A imaginação de Carmen Bentes supera em fantasia a alternação constante das forças no mar agitando a vida...

Obrigada Carmen Bentes por sua poesia e por nos deixar conhecer tão maravilhosa poetisa. Saiba que a literatura de nosso país só tem a ganhar!

Marta Peres


Um grito no espelho – Carmen Bentes



Um corpo nu, um espírito cansado.
Cabelos recolhidos, à nuca atados.
Membros doloridos e fatigados,
Sonhos revisitados e abandonados
Gritos engolidos frente ao espelho embaçado.

Quente e pesada a água arde-lhe no rosto
Ainda assim é tomada por estranho conforto.
Brilhantes líquidos, gotas de lástima.
Névoas se erguem em uma revelação trágica

Ácida bílis não lhe poupa sentir o gosto


O bailar do fogo sombreia ao longe...
E o barulho do crepitar das labaredas,
Dança, solene, em prenúncio de fogueiras
Onde ardem velhas feiticeiras.
A silhueta do roupão, como um sinistro monge.

Novamente mergulha em si,
Liquefazer, liquidar, enlouquecer ou destruir?
Suam os objetos ao seu redor
O espelho escorre pela moldura para ressurgir
Sua e umidece sem saber como fugir.

Timidamente desliga o chuveiro.
Cessa a água e lá fora...aguaceiro.
Deixa que os brilhantes deslizem em fio inteiro,
E acariciem seu corpo desnudo, inerte de vaidade

Aguça os sentidos e escuta a tempestade.

De repente, rescende a lavanda e o cheiro de sonhos bons.
Doce e leve, como se produzisse um som
Na alma surge uma esperança natimorta
Envolve-se na toalha, felpudo escudo,
Mas adivinha que a mansidão não está à sua porta.

Ainda rescende a lavanda e ela envolta na mortalha.
Não era antes toalha? onde está o engano, qual foi sua falha?
Encosta-se à parede, protegida pelo casulo dos azulejos.
Ali quer ficar, embrião gigantesco
Para evitar o grotesco espelho.

Envolve-se e espera por ninguém.
Ao dissipar-se a névoa, irá esconder-se de quem?
Não há sentido em abrir novamente o chuveiro,
Tomar por parceiro o banho noturno...
Se é no espelho que habitam seus fantasmas soturnos.



Soneto do Desencanto – Carmen Bentes


De tudo o que me deste

De tudo que sempre neguei

Foi por ti que jamais vieste

Foi por mim que te deixei


Das ilusões que me cedeste

Dos delírios que não cometi

Foi por mim que me esqueceste

Foi por ti que nunca cedi


Dos encantos que derramaste

Das juras que calei

Foi por ti que não lutastes

Foi por mim que definhei


Da vida que me entregaste

Da mão que te recusei

Do sonho que me negaste

Foi por mim que te amei




Resgate – Carmen Bentes



Observe meu amor que minha maior felicidade

Consiste em esperar:

A vida correr, o tempo dançar

Porque ato final desse bailado

A vida me concederá,

Todos os dias ao teu lado


Para dormir enfim sossegada

E não temer o despertar

Rir contigo e pela tua boca

Esquecer esse fado,

E o amor assim será.


Observe meu amor que esses dias de pouca presença

Desse leito inconstante

De tanta descrença,

Vão terminar.

Apressada irei ao teu encontro

Porque sempre fui, sem nunca esperar.


Tu, entretanto não te convenças

Que nada pedirei, só me deixarei ficar

Quero que me compenses as amarguras

Quero que me cures as feridas

Quero a vida que deixei passar.



Réquiem para um pai – Carmen Bentes


Requiem aeternam dona eis (dai-lhes o repouso eterno)



É de despedida que te falo
Até quando me calei
É de dor que me corrompo
Por ti, a mim amaldiçoei.

Houve um tempo em que sonhava
Sonhos de entendimento e paz
Jamais estes te contava
E tua vida escapou-me fugaz.

É da tua ausência que te falo
Até quando nada digo
É de vazio que resvalo
Sabendo que estás em mim, mas não comigo!

Deixo-te partir com incredulidade
Porquanto te apostava contra tudo
Disfarço-me na pétrea serenidade
Consumo-me na borra do meu luto.

É do teu sono perene que te falo
Embora quisesse livrar-te desse teu dossel
É de ternura que te embalo
Mesmo ungida pelo fel.

Adeus meu menino que é teu tempo
E tempos cumpridos, deves partir
Deixas comigo tão somente a lembrança
De quando ainda podíamos amar e rir.

(assim que te reencontrar, por favor, peças para jamais te deixar)


Prelúdio de Saudade – Carmen Bentes




Tão exato como sei que é amar você

Tão fatídico como sei que hei de morrer

Em grilhões dentro do peito, expande-se porta afora

Como vendaval que assola a pradaria

Euforia de lástimas na dor de agora.


- Brisa suave metamorfoseada em ventania


Tão fatal como mergulhar em areias movediças

Tão tristes como as flores que fenecem nas treliças

É uma canção que escapa inacabada e sem sentido

Como um dia longo, vazio e partido


- Melodia suave metamorfoseada em gemido


E assim, de mansinho ela chega.

Traz sua imagem estampada nela

Traz chagas e pele dilacerada

Imagens de trevas – ocultam a lua

Imagens anônimas – gente na rua

E eu, tão inútil, preciso dela.



Poema do poeta – Carmen Bentes


Poetas não são donos da rima

Poetas têm apenas insistente cisma

De que podem versejar.

E na suas métricas de devaneios

A vida toma outro rumo

A razão tem outro prumo

Nada fica como está.


Poetas não são senhores das musas

Poetas têm apenas a ilusão obtusa

De que podem criar.

E nas suas estrofes de delírios

Os sonhos saem noite adentro

O amor vira desalento

Nada fica como está.


Afinal o que são os poetas?

Proféticos ou profetas?

Alquimistas ou feiticeiros?

Definição assertiva não há.

São ilusionistas

Que traçam na própria vida

Um destino que nunca esteve lá.



Peixe de Prata – Carmen Bentes



Peixe de prata à luz de hora e meia
Brinca no mar que ora vagueia
Quer ser tritão, quem sabe sereia?
Dúbio de prata,
À luz de hora e meia.


Peixe de prata à luz de hora e meia
Preso na rede onde nada permeia
Quer ser livre ou seguro na teia?
Reflexo na prata,
À luz de hora e meia.

Peixe de prata à luz de hora e meia
Desliza na espuma que a vaga ondeia
Quer ser perene ou alimento que esteia?
Brilho de prata,
À luz de hora e meia.

Peixe de prata à luz de hora e meia
Leva meus sonhos e o que mais me incendeia.
Quero ser mansa na paz da areia
Farejar ao vento que me despenteia,
À luz de hora e meia.

Peixe de prata à luz de hora e meia
Exorcizo meus medos no fogo da candeia.
Aqueço-me ao lume, fico nua na areia
Sou renda de espuma enfeitando a maré cheia,
À luz de hora e meia.




Pagã – Carmen Bentes

O encanto com que eu canto o meu canto

Não permite que ele se desvaneça na rua

Estou nua.

A força que força e me reforça a forca

Não permite que ela se rompa à corda crua

Estou nua.

O uivo altivo de feras que arrepia a nuca ruiva

Não deixa que se aproveite o gosto da carne crua

Estou nua.

A mortalha que atrapalha a navalha

Não permite que se ponha a múmia à lua

Estou nua.


E assim entre fortalezas lúcidas e horrores loucos

Sou degredada no frio calabouço

Sou iluminada nos andores,

Santa de peregrinos e pastores.

E assim entre presépios e obséquios

Sou cultuada e devedora

Rameira – fogueira – feiticeira,

Não há como escapar da lua escura.

Sigo como estou, e para sempre hei de ficar

Nua, completamente nua.



Mormaço da Vida – Carmen Bentes






Mormaço, março, fevereiro, abril...

O tempo escoa lentamente,

O curioso, o quê impressiona e nos afeta

É que vagarosamente, ele escoa tão depressa!



Mormaço, março, fevereiro, abril

Mesmo a mais insólita rotina

Os dias eternos onde nada se descortina,

Não se pode alterar e seguem esta mesma rima.



Mormaço, março fevereiro, abril

Tempo para ganhar, tempo para perder.

Por mais intensamente que tenhamos vivido

Sempre será pouco: o tempo não nos deixará viver.



Mormaço, março, fevereiro, abril

No relógio, na escuta, na lida

Na indolência, em surdina e sem voz ativa

A gente desliza no mormaço da vida.


Esconderijo - Carmen Bentes

Teu afeto toma todos os meus cantos
Teu encanto toma todos os meus afetos
Guio-te para meus esconderijos secretos
Convenço-te a seguir comigo
Venço-te nas trilhas que inventei
Ofereço-te matas fechadas
Deixo-te onde me achei.

Teu poema transforma os meus versos

Teu reverso transforma os meus poemas

Guio-te por entre sombras amenas

Convenço-te a andar no escuro

Venço-te nos corrimões por onde alcei

Ofereço-te casarios antigos

Deixo-te onde fiquei.


Teu texto prende a minha caligrafia

Teu pretexto prende minha lucidez

Guio-te pela calçada escorregadia

Convenço-te a entrar no labirinto

Venço-te nos becos e vielas

Ofereço-te à luz da saída

Deixo-te aonde já cheguei.




Beijo roubado – Carmen Bentes


Quero pousar na tua boca

Ser paz no teu sorriso

Invadir teus sonhos

Transformar-me em outra coisa

Algo de belo e colorido

Profanar o teu juízo

Assim como um ateu

Para pecar sem culpa

Na fresca umidade

Na caverna irrigada

Na tua distração alienada

Só por um beijo teu.



Areia de Flor – Carmen Bentes

Brinco procurando rosas
Quero colhê-las à beira do mar
Quero vivê-las na areia macia
Quero espuma para me enfeitar.
Tuas palavras que brincam comigo
Saem salgadas com gosto de fantasia
Minhas rosas são feitas de areia
Onde escorregam na tua poesia

(Dá-me tua flor rubra e te darei minhas rosas de areia!
Dá-me teu encanto e te darei minha dualidade de sereia!
Mas sempre serão, rosas de areia)

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