Poetisa Carmen Bentes!
Minha Amiga Carmen Bentes!
Minha Torre
Forte como uma torre,
surgiu em minha vida,
vive longe,
vive perto do mar!
Amiga pra toda vida,
toda carinho e guarida,
chega iluminado o ar
pois vive pertinho do mar!
Sua alegria e finura,
mescla de encanto e ventura
chega na hora do pranto
deixando seu doce encanto!
Vive em intensa corrida,
a torre sempre a girar,
distante se vê escondida
no trabalho e no mar!
Marta Peres
Carmen Bentes, em cada verso recolhe e estampa o pensar e o sentir, palmilhando seus textos no mais refinado bom gosto e assim caminha fazendo sua poesia.
Carmen Bentes em sua imaginação dá feição e vida aos seus personagens, segue os movimentos, acompanha-lhes a caminhada, numa visão de sonhos em anelos constantes de amor...
A imaginação de Carmen Bentes supera em fantasia a alternação constante das forças no mar agitando a vida...
Obrigada Carmen Bentes por sua poesia e por nos deixar conhecer tão maravilhosa poetisa. Saiba que a literatura de nosso país só tem a ganhar!
Marta Peres
Um grito no espelho – Carmen Bentes
Um corpo nu, um espírito cansado.
Cabelos recolhidos, à nuca atados.
Membros doloridos e fatigados,
Sonhos revisitados e abandonados
Gritos engolidos frente ao espelho embaçado.
Quente e pesada a água arde-lhe no rosto
Ainda assim é tomada por estranho conforto.
Brilhantes líquidos, gotas de lástima.
Névoas se erguem em uma revelação trágica
Ácida bílis não lhe poupa sentir o gosto
O bailar do fogo sombreia ao longe...
E o barulho do crepitar das labaredas,
Dança, solene, em prenúncio de fogueiras
Onde ardem velhas feiticeiras.
A silhueta do roupão, como um sinistro monge.
Novamente mergulha em si,
Liquefazer, liquidar, enlouquecer ou destruir?
Suam os objetos ao seu redor
O espelho escorre pela moldura para ressurgir
Sua e umidece sem saber como fugir.
Timidamente desliga o chuveiro.
Cessa a água e lá fora...aguaceiro.
Deixa que os brilhantes deslizem em fio inteiro,
E acariciem seu corpo desnudo, inerte de vaidade
Aguça os sentidos e escuta a tempestade.
De repente, rescende a lavanda e o cheiro de sonhos bons.
Doce e leve, como se produzisse um som
Na alma surge uma esperança natimorta
Envolve-se na toalha, felpudo escudo,
Mas adivinha que a mansidão não está à sua porta.
Ainda rescende a lavanda e ela envolta na mortalha.
Não era antes toalha? onde está o engano, qual foi sua falha?
Encosta-se à parede, protegida pelo casulo dos azulejos.
Ali quer ficar, embrião gigantesco
Para evitar o grotesco espelho.
Envolve-se e espera por ninguém.
Ao dissipar-se a névoa, irá esconder-se de quem?
Não há sentido em abrir novamente o chuveiro,
Tomar por parceiro o banho noturno...
Se é no espelho que habitam seus fantasmas soturnos.
Soneto do Desencanto – Carmen Bentes
De tudo o que me deste
De tudo que sempre neguei
Foi por ti que jamais vieste
Foi por mim que te deixei
Das ilusões que me cedeste
Dos delírios que não cometi
Foi por mim que me esqueceste
Foi por ti que nunca cedi
Dos encantos que derramaste
Das juras que calei
Foi por ti que não lutastes
Foi por mim que definhei
Da vida que me entregaste
Da mão que te recusei
Do sonho que me negaste
Foi por mim que te amei
Resgate – Carmen Bentes
Observe meu amor que minha maior felicidade
Consiste em esperar:
A vida correr, o tempo dançar
Porque ato final desse bailado
A vida me concederá,
Todos os dias ao teu lado
Para dormir enfim sossegada
E não temer o despertar
Rir contigo e pela tua boca
Esquecer esse fado,
E o amor assim será.
Observe meu amor que esses dias de pouca presença
Desse leito inconstante
De tanta descrença,
Vão terminar.
Apressada irei ao teu encontro
Porque sempre fui, sem nunca esperar.
Tu, entretanto não te convenças
Que nada pedirei, só me deixarei ficar
Quero que me compenses as amarguras
Quero que me cures as feridas
Quero a vida que deixei passar.
Réquiem para um pai – Carmen Bentes
Requiem aeternam dona eis (dai-lhes o repouso eterno)
É de despedida que te falo
Até quando me calei
É de dor que me corrompo
Por ti, a mim amaldiçoei.
Houve um tempo em que sonhava
Sonhos de entendimento e paz
Jamais estes te contava
E tua vida escapou-me fugaz.
É da tua ausência que te falo
Até quando nada digo
É de vazio que resvalo
Sabendo que estás em mim, mas não comigo!
Deixo-te partir com incredulidade
Porquanto te apostava contra tudo
Disfarço-me na pétrea serenidade
Consumo-me na borra do meu luto.
É do teu sono perene que te falo
Embora quisesse livrar-te desse teu dossel
É de ternura que te embalo
Mesmo ungida pelo fel.
Adeus meu menino que é teu tempo
E tempos cumpridos, deves partir
Deixas comigo tão somente a lembrança
De quando ainda podíamos amar e rir.
(assim que te reencontrar, por favor, peças para jamais te deixar)
Prelúdio de Saudade – Carmen Bentes
Tão exato como sei que é amar você
Tão fatídico como sei que hei de morrer
Em grilhões dentro do peito, expande-se porta afora
Como vendaval que assola a pradaria
Euforia de lástimas na dor de agora.
- Brisa suave metamorfoseada em ventania
Tão fatal como mergulhar em areias movediças
Tão tristes como as flores que fenecem nas treliças
É uma canção que escapa inacabada e sem sentido
Como um dia longo, vazio e partido
- Melodia suave metamorfoseada em gemido
E assim, de mansinho ela chega.
Traz sua imagem estampada nela
Traz chagas e pele dilacerada
Imagens de trevas – ocultam a lua
Imagens anônimas – gente na rua
E eu, tão inútil, preciso dela.
Poema do poeta – Carmen Bentes
Poetas não são donos da rima
Poetas têm apenas insistente cisma
De que podem versejar.
E na suas métricas de devaneios
A vida toma outro rumo
A razão tem outro prumo
Nada fica como está.
Poetas não são senhores das musas
Poetas têm apenas a ilusão obtusa
De que podem criar.
E nas suas estrofes de delírios
Os sonhos saem noite adentro
O amor vira desalento
Nada fica como está.
Afinal o que são os poetas?
Proféticos ou profetas?
Alquimistas ou feiticeiros?
Definição assertiva não há.
São ilusionistas
Que traçam na própria vida
Um destino que nunca esteve lá.
Peixe de Prata – Carmen Bentes
Peixe de prata à luz de hora e meia
Brinca no mar que ora vagueia
Quer ser tritão, quem sabe sereia?
Dúbio de prata,
À luz de hora e meia.
Peixe de prata à luz de hora e meia
Preso na rede onde nada permeia
Quer ser livre ou seguro na teia?
Reflexo na prata,
À luz de hora e meia.
Peixe de prata à luz de hora e meia
Desliza na espuma que a vaga ondeia
Quer ser perene ou alimento que esteia?
Brilho de prata,
À luz de hora e meia.
Peixe de prata à luz de hora e meia
Leva meus sonhos e o que mais me incendeia.
Quero ser mansa na paz da areia
Farejar ao vento que me despenteia,
À luz de hora e meia.
Peixe de prata à luz de hora e meia
Exorcizo meus medos no fogo da candeia.
Aqueço-me ao lume, fico nua na areia
Sou renda de espuma enfeitando a maré cheia,
À luz de hora e meia.
Pagã – Carmen Bentes
O encanto com que eu canto o meu canto
Não permite que ele se desvaneça na rua
Estou nua.
A força que força e me reforça a forca
Não permite que ela se rompa à corda crua
Estou nua.
O uivo altivo de feras que arrepia a nuca ruiva
Não deixa que se aproveite o gosto da carne crua
Estou nua.
A mortalha que atrapalha a navalha
Não permite que se ponha a múmia à lua
Estou nua.
E assim entre fortalezas lúcidas e horrores loucos
Sou degredada no frio calabouço
Sou iluminada nos andores,
Santa de peregrinos e pastores.
E assim entre presépios e obséquios
Sou cultuada e devedora
Rameira – fogueira – feiticeira,
Não há como escapar da lua escura.
Sigo como estou, e para sempre hei de ficar
Nua, completamente nua.
Mormaço da Vida – Carmen Bentes
Mormaço, março, fevereiro, abril...
O tempo escoa lentamente,
O curioso, o quê impressiona e nos afeta
É que vagarosamente, ele escoa tão depressa!
Mormaço, março, fevereiro, abril
Mesmo a mais insólita rotina
Os dias eternos onde nada se descortina,
Não se pode alterar e seguem esta mesma rima.
Mormaço, março fevereiro, abril
Tempo para ganhar, tempo para perder.
Por mais intensamente que tenhamos vivido
Sempre será pouco: o tempo não nos deixará viver.
Mormaço, março, fevereiro, abril
No relógio, na escuta, na lida
Na indolência, em surdina e sem voz ativa
A gente desliza no mormaço da vida.
Esconderijo - Carmen Bentes
Teu afeto toma todos os meus cantos
Teu encanto toma todos os meus afetos
Guio-te para meus esconderijos secretos
Convenço-te a seguir comigo
Venço-te nas trilhas que inventei
Ofereço-te matas fechadas
Deixo-te onde me achei.
Teu poema transforma os meus versos
Teu reverso transforma os meus poemas
Guio-te por entre sombras amenas
Convenço-te a andar no escuro
Venço-te nos corrimões por onde alcei
Ofereço-te casarios antigos
Deixo-te onde fiquei.
Teu texto prende a minha caligrafia
Teu pretexto prende minha lucidez
Guio-te pela calçada escorregadia
Convenço-te a entrar no labirinto
Venço-te nos becos e vielas
Ofereço-te à luz da saída
Deixo-te aonde já cheguei.
Beijo roubado – Carmen Bentes
Quero pousar na tua boca
Ser paz no teu sorriso
Invadir teus sonhos
Transformar-me em outra coisa
Algo de belo e colorido
Profanar o teu juízo
Assim como um ateu
Para pecar sem culpa
Na fresca umidade
Na caverna irrigada
Na tua distração alienada
Só por um beijo teu.
Areia de Flor – Carmen Bentes
Brinco procurando rosas
Quero colhê-las à beira do mar
Quero vivê-las na areia macia
Quero espuma para me enfeitar.
Tuas palavras que brincam comigo
Saem salgadas com gosto de fantasia
Minhas rosas são feitas de areia
Onde escorregam na tua poesia
(Dá-me tua flor rubra e te darei minhas rosas de areia!
Dá-me teu encanto e te darei minha dualidade de sereia!
Mas sempre serão, rosas de areia)
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home