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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um pouco da história do blues



Um pouco da história do blues

Às vezes, o pensamento vai mais longe e me vejo misturar aos muitos amantes do blues em um Festival na Holanda. Maravilha-me entrar de cabeça em um local para assistir as inúmeras bandas holandesas  e estrangeiras se apresentando. Me vejo nos cafés e restaurantes  em toda a cidade. Nada é mais maravilhoso que, a pessoa se ver em Delft curtindo o festival no centro da cidade, apreciando a bela paisagem local. Uma temporada curtindo música é impagável!  

Assim, eu me via lá, curtindo o blues de Chicago e do Texas, blues rock e Delta blues acústico, apenas ouvindo pelo aparelho de casa, contudo, a imaginação me transportava além do mar. E a alma sentindo não participar das oficinas e mostras de filmes. Mas a participação da cidade nesta diversão ímpar eu imaginava... certamente. Um fevereiro destes quem sabe ainda apareço por lá, o que vale é sonhar!

Pensando bem, após a abolição, que direitos sociais os negros tiveram acesso?

Nem mesmo a um estudo de qualidade nem tecnologia, crédito bancário, participação em cooperativas e outras formas de desenvolvimento econômico, nada. Veio a abolição e, bateu de chofre pegando o negro de jeito deixando-o desprotegido, despido de tudo o que lhe era necessário para uma vida digna. Continuaram sendo tratados apenas como uma classe inferior, os pobres nela permaneceram incluídos. Nem todos donos do capital$$$$$$  pensaram ajudar, aliás, poucos tiveram piedade do novo estágio de vida dos negros. Então, a dificuldade do negro  ascender era vista claramente. Raras exceções conseguiam algo melhor – a grande maioria vivia sem dúvida alguma na penúria  sem ter mesmo como manterem as necessidades básicas. Estudo, saneamento básico, saúde, entre outras – para não dizer que o preconceito persistia. Pensaram apenas em libertar, não pensaram em como dar suporte quanto ao futuro destas pessoas – isto aconteceu no Brasil e nos Estados Unidos!     

Será que o pessoal da época se importou com o resultado advindo do descaso com o negro? Que perspectiva de vida tinha o ex-escravo? Como poderiam eles, por eles próprios melhorarem suas condições de vida? Chegavam passar fome e lembrar do olhar de tristeza daquelas pessoas dói o coração por mais duro que seja. Muitos avançavam na vida com algum trabalho no campo, negociando algum serviço necessário, ou, quem tinha do dom musical era através da música. Aliás, pagavam-se pouco ao artista – o artista negro então, sem se fala. Você já parou para pensar na situação dos nossos irmãos ex-escravos? A imaginação é de arrepiar.

Maravilha-me aquele ex-escravo com dom musical na alma talento emprestado por Deus. A impressão que tenho é a de vê-lo ali naquele ambiente com seu instrumento tocando sua música, cantando as canções tristonhas. É mágico ver o ex-escravo recém liberto de uma escravidão que perdurou por séculos, sabendo usar magistralmente o instrumento e conhecendo notas e melodia. Melodia que entra noite adentro e se impregna no ar indo aos céus. Não seria presente de Deus ao homem que teve suas heranças sociais destruídas?

Aqueles que foram mandados para um novo mundo desconhecido eram humilhados, tratados como animais raros sem ao menos terem direitos civis básicos. Triste é pensar em como ficava a auto-estima destas pessoas. Contudo, lutaram com dificuldade para sobreviver, crescer em Chicago, Texas, Detroit, St. Louis na beira do rio Mississippi e outros locais dos Estados Unidos da América do Norte. Eles viveram na peleja para terem reconhecimento como cidadãos – principalmente  aproximaram-se cada vez mais, buscando serem socorridos em suas crenças religiosas.    

A região oeste da África foi invadida por comerciantes de escravos, homens maus que invadiam as vilas e roubavam pessoas, os roubavam do seio da tribo, da família e roubavam famílias inteiras, muitas das famílias separadas - colocavam aquelas pessoas ( só por serem de cor ) trancafiadas dentro dos porões dos navios negreiros rumo à América!

A cor faz com que a pessoa seja inferior?

Os escravos cultuavam os espíritos, praticavam a religião de nome Vodum, cultura que os africanos carregaram para o novo mundo – Vodum=religião e vodum=espírito ( diferencia-se pelas letras maiúsculas e minúsculas ).

Quem nunca assistiu um filme americano que, conta a história da escravidão onde é marco o misticismo?

Pouco a pouco o vodum passou a ser chamado Voodoo e se ramificou em várias religiões, entre elas o Voodoo da Louisiania, o Voodoo do Haiti ( cada uma delas apresentando seus mitos dos zumbis ) visto em filmes do Elvis Presley passados no Haiti. Por fim, no Brasil temos a Umbanda, Candomblé e outros –  há diferença no Brasil por termos outra cultura, se nosso país tivesse sido colonizado pelos ingleses teríamos também a mesma religião entre os escravos.   

Os escravos se comunicavam com seus ancestrais mortos, os chamavam guardiões. Eram pessoas que já haviam morrido para a vida na terra e viviam outra vida em nova dimensão – os escravos solicitavam ajuda nas questões mais diversas do dia-a-dia, negócios, amor, vingança, etc. Ainda existe a prática das oferendas em encruzilhadas  e muitos outros rituais, legado do povo africano.

Sabe-se que pelos costumes e cultura negra o Voodoo está presente no blues rural nos tempos de hoje, tanto nas letras das músicas cujos temas são ligados a religião, como o mojo, simpatia que produz proteção a todo aquele que o conduz o osso de gato preto, o próprio demônio em pessoa, e a encruzilhada.

O negro se apegava à religião.

É o que podiam fazer, o que conseguiam fazer, o que faziam?

Pobre povo sofrido sem perspectiva de melhor vida, abraçavam sua cultura por ser forte e fortalecer  a cada um deles,  porque, não tinham amparo constitucional, poucas oportunidades, e a que lhes caía bem era a música – e o apego à religião.

Desta gente nasceu o blues como um estilo ou forma musical que se baseia no uso de notas graves com fins expressivos e que mantém uma estrutura musical repetitiva. O gênero surgiu nos Estados Unidos, precisamente no sul com os escravos que faziam canções de trabalho nas plantações de algodão, surgiu também outros tipos de músicas relacionadas com a fé religiosa – spirituals. Porém, o conceito de Blues só se tornou conhecido depois do término da Guerra Civil Americana – exato período em que passou a representar a essência do espírito da população afro-americana. Daí, o blues se alastrou rapidamente por todo país, originando uma série de estilos regionais. Podemos conhecer a história assistindo aos inúmeros filmes americanos de época.   

Sobre o blues – conta-se que Robert Johnson foi até a intersecção das rodovis 61 e 49 vender sua alma para se tornar um virtuoso bluesman.

O fato mostra a marca da força religiosa na época. Robert Johnson foi até uma encruzilhada fazer pacto com o Demo. Pode ser que seja lenda, contudo, é muito explorado por cineastras e apaixonados pelo blues. Sabe-se que naquela encruzilhada em Clarcksdale no Mississippi por volta da meia noite, o jovem foi vender sua alma para ser o maior bluesman de todos os tempos.

O blues é música triste, música que nasceu triste, arrancada da melancolia na alma dos escravos. Seria um choro? Seria uma saudade? Seria um lamento? Acredito que possa ter sido uma dor lancinante no coração dos pobres negros da época, desencanto cantado por escravos recém-libertos e seus descendentes. Saudades sentidas pelos ancestrais da Pátria de onde foram arrancados.    

Sinto no ar e na carne como se estivesse ali no delta do rio Mississippi ouvindo o som que aos poucos vai se alastrando  pelas terras Norte Americanas, indo junto aos negros que saíram em caravana na busca de uma nova vida, de novos sonhos, enfim, de melhor vida. Naquele caminhar pacholento,    car acterística dos ex-escravos norte americanos.   

Bela trajetória em que o violão e o banjo foram substituídos pela guitarra  e o blues elétrico tornou-se a base musical do rock’n’roll e a partir dos anos 50 eis a conquista mundial.

Lá vão eles calmamente, o som da música de Johnson ecoando na noite, “ Sweet Home Chicago” depois, “Cross Road Blues” cada vez mais alto chegando aos céus onde tantos ex-escravos vivem dentro de uma redoma de paz, que foi construída aos poucos.

Nada melhor que ouvir a música popularizada nas canções dos Rolling Stones, Led Zeppelin, Eric Clapton e outros. Contudo, Robert Johnson com seu “ Love in Vain” é tudo de bom! Vale a pena também – Muddy Waters, T – Bone Walker, John Lee Hooker, Charley Patton, San House, Blind Willie Johnson,  Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Silvester Weaver, B.B. King entre outros, as big bands – Sonny Boy Williamson, Elmore James, Big Bill Broonzy – nomes como Willie Dixon, Howlin Ray Vaughan, Albert King, Freddie King, Buddy Guy, Stevie Ray Vaughan. 

Alguns guitarristas sofreram a influência dos bons bluseiros, mais tarde incorporando novos estilos – buscando sonoridades opostas - Jimi Hendrix e Wes Montgomery foram dois deles.

Esta, é parte da trajetória da música que, nasceu como uma das principais expressões culturais dos negros pobres do sul dos Estados Unidos, vindo tornar-se um dos gêneros mais importantes da canção popular  influenciando desde o jazz ao rock, da Black music à música popular.

Texto que ofereço ao amigo Frederico Bernardes e a todos que gostam de blues!

Marta Peres

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